sexta-feira, 10 de março de 2017
sexta-feira, 3 de março de 2017
quinta-feira, 2 de março de 2017
Brasil, país da repetência
O novo censo escolar mostra que um de cada quatro alunos chega ao fim do ensino fundamental com pelo menos uma reprovação no currículo
Por Maria Clara Vieira – de Veja Educação
O censo escolar levanta ano a ano, escola a escola,
dados que ajudam a dimensionar o quanto o Brasil avançou – ou não – na
quantidade e na qualidade do ensino. Na edição que o Inep, órgão ligado ao
Ministério da Educação (MEC), divulga nesta quinta-feira, há um dado que, mesmo
tendo jeitão de reprise, deve vir aos holofotes como um aviso de que há algo de
muito errado por aqui: a repetência no país continua entre as mais altas do
mundo. Trata-se de um indicador inequívoco do baixo nível das escolas
brasileiras.
Os números confirmam que o Brasil está ainda muito
longe do que propõe o Plano Nacional de Educação: no papel, 95% dos alunos
deveriam concluir o ensino fundamental na idade adequada até 2024; na
realidade, 23% (quase um de cada quatro estudantes) que cursam o 9º ano em
colégio público repetiram pelo menos uma vez ao longo de sua vida escolar. A
diferença para as escolas particulares merece ser ressaltada pelo fosso que as
separa: na rede privada, 7% tiveram a mesma trajetória.
“O alto índice de alunos repetentes sinaliza que o
professor não está ensinando, o aluno não está aprendendo e o Brasil joga
dinheiro fora num sistema inoperante”, resume a secretária executiva do MEC,
Maria Helena Guimarães. Em 2015, a repetência dragou cerca de 30 bilhões de
reais dos cofres públicos (está incluído aí o preço de pagar duas vezes pelo
mesmo aluno). O economista americano Eric Hanusheck, especialista em derrubar
os costumeiros mitos que pairam sobre a sala de aula, costuma dizer: repetir
custa caro ao aluno e ao país. E pior ainda, é um ciclo vicioso. Repetência
chama repetência. Mas que fique claro: a ideia não é passar todo mundo de ano
baixando a régua. Escola boa é aquela que consegue evitar este desfecho sem
abrir mão de metas elevadas.
Dentre os outros números do censo, vale destacar
que a tão propalada universalização da pré-escola, que deveria ter acontecido
até o ano passado, não se concretizou. Sim, era o que a lei exigia, mas os
números mostram que ficou só no texto mesmo: 600 000 alunos de 4 e 5 anos ainda
estão fora da sala de aula. Já está comprovado que quem entra na escola bem
cedo, e recebe estímulos apropriados, se beneficiará disso por toda a vida
escolar. Na outra ponta, 1,6 milhão de jovens entre 15 e 17 anos – a idade
esperada para o ensino médio – não estão estudando. O censo não deixa dúvidas
de que é chegada a hora de o Brasil começar a ter, com o perdão do trocadilho,
senso (com “s”) de responsabilidade com o futuro.
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